Diz a lenda que, quando Ho-Lu, rei do Estado de Wu, leu A Arte da Guerra, mandou
chamar o autor em seu palácio, pois queria testar a eficiência das idéias expostas no tratado.
HSM Management 49 março-abril 2005
Sun Tzu aceitou o desafio sem hesitar. Pediu permissão para usar as concubinas reais
em um exercício e impôs uma condição: o soberano deveria respeitar as decisões do filósofo.
Ho-Lu aprovou a proposta.
Sun Tzu dividiu as mulheres em dois grupos, comandados cada um por uma
concubina favorita do rei, e explicou os principais elementos dos exercícios militares. Ao final
das explicações, o filósofo perguntou se elas haviam compreendido as regras e todas
responderam que sim. No entanto, quando Sun Tzu começou a dar ordens, as concubinas
caíram na risada. Ele disse: “Se os regulamentos não estiverem claros e as ordens não forem
totalmente compreendidas, o erro é do comandante”.
O filósofo repetiu as instruções e, ao dar as ordens novamente, mais uma vez as
mulheres começaram a rir. Dessa vez, Sun Tzu falou: “Se as regras estão devidamente
esclarecidas, mas ninguém as segue, a culpa é dos líderes”, e ordenou o enforcamento das
duas concubinas favoritas do rei. Ao saber da decisão, o rei se apressou em dizer ao filósofo
que havia compreendido perfeitamente o sistema e que não era preciso executar ninguém
–mas Sun Tzu não se comoveu com a intervenção real e mandou consumar os
enforcamentos. Após a execução, Sun Tzu escolheu outras líderes para comandar os dois
grupos e continuou com os exercícios.
Dessa vez, quando Sun Tzu repetiu as ordens, ninguém ousou rir e os exercícios
militares foram realizados de acordo com as instruções. Mas o rei estava tão deprimido com a
morte das concubinas preferidas que perdera o interesse pela demonstração do filósofo. E
Sun Tzu o alertou: “Vossa Majestade aprecia as palavras, mas não tem a coragem necessária
para colocá-las em prática”.
Felizmente, os leitores não aplicarão esse exemplo de modo literal. O objetivo deste
artigo não é reproduzir o texto de Sun Tzu, mas sim interpretá-lo à luz do gerenciamento
moderno e encontrar mecanismos para solucionar problemas atuais. Por isso, termos
militares como “exército”, “terreno”, “inimigo” e “comandante”, por exemplo, são
substituídos por palavras do mundo dos negócios, como “empresa”, “ambiente”,
“concorrência” e “líder”.